Na
atualidade só há três tipos de arquitetos:
-- Os que
fazem os megaprojetos cheios de tecnologia, que enchem as mídias e encantam o
mundo, quase sempre financiados pelo dinheiro público ou de algum
esdrúxulo magnata.
-- Os que,
funcionários de grandes escritórios projetam edifícios comportados para
incorporadoras, e vez por outra enfiam umas firulas e brilhos, que os tornam
super-originais, iguaizinhos à maioria.
--
Por fim, habilidosos ou não, criativos ou não, talentosos ou não... os demais,
a maioria da multidão que escolheu como
profissão a arquitetura.
Que se empregados na área pública, passam a vida fazendo nada, caso sejam café-pequeno; ou, se chefes, pondo e tirando o paletó da cadeira.
Que se empregados na área privada vivem fazendo o que não desejam.
Por fim, os autônomos, estes que se esforçam para serem percebidos, mas
limitados pela timidez dos investimentos resignam-se às pequenas obras, e não
raras vezes ficam nos sonhos dos rascunhos ou maquetes.
Claro que nada
disso é exato, nem há nenhuma novidade, com a medicina, p.ex. é mais ou menos a
mesma coisa, onde os expoentes não saem da mídia, mas o restante ou é empregado
dos Planos de Saúde ou servidor público.
Mas há
diferenças - arquitetura nem salva, nem mata! É desafio, arte que
envolve literalmente o ser humano, e não creio que alguém que tenha escolhido
esta profissão, cuja característica principal não é a repetição, se sinta
equilibrado fazendo nada, ainda que esse nada não seja verdadeira e exatamente
o vazio.
"Vai
construir? Comprou uma casa velha, um apartamento caindo aos pedaços...
consulte sempre um arquiteto!" Li isso em algum lugar que não
era o para-choque de um caminhão, talvez no vidro traseiro de quem andava na
minha frente, não lembro e não importa, aviso inútil que não muda nenhum
destino. Por que? Ora...
Por que vou gastar uma grana se eu
posso fazer sozinho?
Ops, eu tenho um amigo que é
engenheiro e pode dar uma olhada...
Minha prima já mexeu com obra, ela
leva jeito...
Nem morto! Na última vez que usei um
arquiteto quase saímos no tapa...
Jo soy un arquitecto nacido...
Se os
autônomos escapam disso, dão graças aos céus que têm algo pra
fazer, mesmo que esse algo seja um quase nada em arquitetura, e poderão dar de comer aos seus cães ou filhos, caso os tenham,
Dia desses
conversei por telefone com um sujeito que vendia tumbas... Ops, tumbas!? Mais
ou menos isso, ele vendia espaços, coordenadas de um novo cemitério.
Falei que
deixei uma ordem para ser cremado, que só ia precisar de uma urna, e
temporária. Ele riu e disse que urna ele não vendia. Nem vi a
cara do sujeito, mas era um tipo simpaticíssimo, e falamos sobre outras coisas
até ele dizer que era um corretor da morte, mas pra eu não confundir
com 'corretor de morte', que era arquiteto e cansou de não fazer nada
durante anos numa construtora, quando tomou a decisão de fazer alguma coisa
útil.
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